Ensino de Física no Brasil segundo Richard Feynman

Nas minhas aulas de introdução à relatividade e quântica sempre surge algum detalhe que me chama muito atenção e acaba indo para o me bloquinho de anotações para posts futuros... Este ultrapassou todas as prioridades que eu tinha, pois me identifiquei muito.

É muito fácil encontrar na internet a biografia e muitos outros detalhes da vida de Feynman, mas vamos ao que me chamou mais atenção: A opinião dele quanto ao ensino de física no Brasil.

Neste link você encontrará o texto na íntegra: http://www.uel.br/cce/fisica/pet/EnsinoRichardFeynman.pdf. Abordarei trechos com os quais me identifico.

Finalmente descobri que os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o que queria dizer. Quando eles ouviram “luz que é refletida de um meio com um índice”, eles não sabiam que isso significava um material como a água. Eles não sabiam que a “direção da luz” é a direção na qual você vê alguma coisa quando está olhando, e assim por diante. Tudo estava totalmente decorado, mas nada havia sido traduzido em palavras que fizessem sentido. Assim, se eu perguntasse: “O que é o Ângulo de Brewster?”, eu estava entrando no computador com a senha correta. Mas se eu digo: “Observe a água”, nada acontece – eles não têm nada sob o comando “Observe a água”. 

O ensino de física basicamente é assim, você decora muitos conceitos, mas na maioria das vezes não sabe onde aplicá-los e nem sabe como interpretá-los. Séria dificuldade minha, pois sou péssima para decorar conceitos e tenho uma séria dificuldade em abstrair. Tenho que ver uma aplicação direta daquele conceito para que tudo se encaixe na minha cabeça. Conversando com um professor da faculdade eu mencionei que minha sensação é que ainda estou na superfície das disciplinas, talvez por ainda não ter compreendido muito dos conceitos que foram passados.

Uma outra coisa que nunca consegui que eles fizessem foi perguntas. Por fim, um estudante explicou-me: “Se eu fizer uma pergunta para o senhor durante a palestra, depois todo mundo vai ficar me dizendo: “Por que você está fazendo a gente perder tempo na aula? Nós estamos tentando aprender alguma coisa, e você o está interrompendo, fazendo perguntas”

Uma grande dificuldade no começo do curso: questionar. Talvez algumas dificuldades permanecem comigo pelo fato de não ter questionado no começo. Talvez eu tenha aprendido alguns conceitos de forma mais clara por ter pesquisado sozinha, mas como tenho disponíveis professores muito bons que me incentivam a pensar, talvez eu poderia ter aprofundado mais.

Bem, depois de eu dar minha palestra, o chefe do departamento de educação em ciências levantou e disse: “O Sr. Feynman nos falou algumas coisas que são difíceis de se ouvir, mas parece que ele realmente ama a ciência e foi sincero em suas críticas. Assim sendo, acho que devemos prestar atenção a ele. Eu vim aqui sabendo que temos algumas fraquezas em nosso sistema de educação; o que aprendi é que temos um câncer!” – e sentou-se.

O ensino de física tem muitas falhas de simples correção e que são sempre comentadas entre os alunos e que persistem semestre após semestre. Os laboratórios são muito bons, pouco utilizados com eficácia, alguns professores que não elaboram seus planos de ensino, algumas aulas com teoria superficial e muitos exercícios já outras com muita teoria e pouca aplicação. Discutindo um destes  problemas com colegas em uma aula percebi que os problemas são nacionais.Complicado, mas fico muito animada em saber que os meus professores também estão preocupados com a nossa formação e com a melhoria do curso.

Não deixem de ler o texto de Richard Feynman, eu li e na maioria das vezes me identifiquei com o que ele falou. Sei que é muito difícil mudar o ensino de física de um dia para o outro e quero parabenizar os professores que estão pesquisando novos métodos de ensino e estão aplicando em sala de aula.

Até mais,

Camille