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Roberto Martins x Marcelo Gleiser

Caros colegas, este meu post será dedicado a este artigo que achei muito interessante e indico a leitura com certeza... Irei deixar em negrito as partes que achei mais interessantes...

Minha última apresentação em Evolução dos Conceitos da Física foi sobre este artigo.

O artigo aponta os erros do livro:  "A dança do universo: dos mitos de criação ao big-bang" E foi escrito por Roberto Martins:



http://150.162.1.115/index.php/fisica/article/viewFile/6886/6345

Este artigo discute a dificuldade de se apresentar conceitos físicos corretos em obras de divulgação científica. Toma-se como exemplo uma leitura crítica do livro A dança do universo: dos mitos de criação ao big-bang , analisando-se problemas conceituais da abordagem empregada
nessa obra. Evidencia-se a existência de grande número de erros, provenientes de uma utilização descuidada de imagens e comparações, que poderiam ter sido evitados. Discute-se também a parte da obra referente à Física Clássica; a relacionada à Física Moderna será discutida em um próximo trabalho.

Há pouco tempo foi publicada uma obra que, infelizmente, serve como um contra-exemplo de boa propagação da ciência: A dança do universo, de Marcelo Gleiser. Uma análise detalhada desse trabalho pode ser útil, pois o livro conta com um esquema de divulgação tão eficiente que, apesar de se tratar de um autor sem nenhuma experiência prévia, sua obra já se tornou, desde o lançamento, um best seller .
Certamente muitos alunos (e professores) a lerão e, sem estarem advertidos, poderão deixar de perceber o enorme número de falhas que contém.

Lembro que na época que este livro foi lançado o Marcelo Gleiser foi em vários programas de televisão e saiu em várias capas de revista e uma delas foi esta:

O que me chamou atenção neste artigo é a quantidade de erros encontrados no livro, erros históricos, erros de conceito, temas abordados que não tem ligação com o titulo do livro.

O Roberto Martins aborda cada um destes erros com um rigor imenso e não poderia ser diferente....

Confira somente um comentário de vários que tem no artigo:

Ao falar sobre linhas de força, o autor tenta dar um exemplo do dia-a-dia, mas é bastante infeliz na sua colocação. O excerto diz:

Se você tem dois daqueles magnetos usados para pendurar recados nas portas de refrigeradores, você pode sentir suas linhas de força forçando um contra o outro em ângulos diferentes. (id. ibid., p.236) 

Ninguém pode sentir as linhas de força assim. Aproximando um ímã de outro, em diferentes direções, apenas é possível sentir atrações, repulsões e torques. Não se pode sentir as linhas de força. Para vê-las , o melhor é utilizar-se o velho e eficiente recurso didático de espalhar ferro em pó sobre um papel e colocar um ímã sob ele. Outra possibilidade é ir colocando uma bússola em diferentes pontos perto de um ímã (que precisa ser forte e de tamanho maior do que a sola), e ir marcando a direção indicada pela agulha magnética em cada ponto.

Ele também comenta sobre os erros nas imagens do livro...

O Roberto Martins e o Marcelo Gleiser se encontraram no programa roda vida e veja trechos da entrevista em que Roberto Martins só fez uma interferência:

Roberto de Andrade Martins: Bem, antes do intervalo foi levantada a questão da diferença entre ciência e pseudociência. Eu acho que é importante a gente pensar também que o cientista falha, o cientista não é um ser perfeito, normalmente o cientista é competente em um domínio extremamente limitado da ciência, e quando ele tenta falar sobre coisas que não são da sua própria área de competência, ele pode cometer falhas. No entanto, há uma visão popular de que “o cientista” vai sempre dizer alguma coisa correta. Não há essa percepção de áreas de competência. E esse problema aparece também no caso da divulgação científica. Quando uma pessoa que é especializada, digamos, em cosmologia quer falar a respeito de toda a física, ou talvez de coisas que não pertençam à física, ele pode sair da sua área de competência. Eu acredito que é importante a gente assinalar que as pessoas, por mais bem intencionadas que sejam, cometem falhas, e em particular eu diria que o seu livro tem algumas falhas, e eu gostaria de chamar atenção para apenas um exemplo, que eu acho que é fácil de apresentar. No seu livro, você descreve a construção de um espectroscópio, que é um instrumento para decompor a luz, para analisar o espectro do sol, de outras coisas. Esse texto chamou a atenção de estudantes, por exemplo, que usaram esse texto como base de uma página na internet. O seu livro, embora não tenha a finalidade de ser um texto didático, está sendo usado como texto didático – essa é uma responsabilidade muito grande –, e aqui no seu livro você apresenta a estrutura de um espectroscópio [mostra a página do livro a que se refere], que seria isto aqui [tira um tubo do bolso do paletó e mostra ao entrevistado], um tubo com duas fendas; do outro lado teria ou uma rede de difração ou um prisma. E a descrição que é feita no livro é de que, com este aparelho, eu posso decompor a luz do sol e ver as raias escuras que aparecem no espectro, as raias de Fraunhofer. E eu construí este aparelho aqui. Isto aqui é uma rede de difração; eu recortei uma rede de difração para colocar aqui, e este aparelho não funciona. Quer dizer, se algum estudante tentar reproduzir isto, vai ver que não funciona. Se ele experimentar tirar a rede de difração e colocar um prisma, por exemplo, que é outra possibilidade [tira do outro bolso do paletó um prisma, que mostra ao entrevistado]. Então, se a gente colocar um prisma aqui e tentar ver as raias de Fraunhofer, também não vai ver. E se ele achar, por exemplo, que talvez esse prisma não seja muito bom, porque quando você descreve no seu livro o que é um prisma, você diz que um prisma é um cristal em forma de pirâmide... Isto aqui [o prisma que tem em mãos] não é um cristal em forma de pirâmide. Então [tira do bolso uma pequena pirâmide de cristal] ele teria que ir numa loja de produtos esotéricos e comprar uma pirâmide de cristal para tentar colocar aqui [no tubo] para ver as raias de Fraunhofer, e ele não vai ver. Eu acho que é importante a gente perceber que mesmo as pessoas mais bem intencionadas podem cometer falhas, e que tentar falar sobre toda a física, uma pessoa sozinha, sem o apoio de outras pessoas, pode ser uma tarefa ingrata. Eu queria então que você explicasse por que isto aqui não funciona.

Marcelo Gleiser: Eu acho que o que é importante no livro é que as pessoas que leram o livro e se interessaram por um espectroscópio, se elas não conseguirem construir um desses, elas vão tentar entender melhor como funciona um espectroscópio. Então, o que o livro faz é apresentar, tentar motivar o interesse em aprender mais. É claro que um livro desses, como eu falo no prefácio, não é um livro-texto [livro adotado como texto básico em um curso], não é um manual de construção de equipamentos científicos, e nem tem essa pretensão, mas é um livro que tenta inspirar as pessoas sobre a beleza da ciência, sobre o que é a ciência, sem querer descrever a ciência de forma precisa, quantitativa. E, sem dúvida, é claro que eu sou falível; eu acho que só o papa, segundo decreto, é infalível, e certamente existem erros nesse livro, como existem em vários outros livros, se não me engano, em qualquer livro de ciência. Mas o objetivo do livro não é ser perfeito, o objetivo do livro é inspirar. Eu acho que, nesse sentido, eu fui muito bem sucedido.

E ai Marcelo Gleiser te convenceu a comprar o livro dele? Achei que ele não respondeu diretamente quanto aos erros que comenteu no livro... Mas...

Quer dizer que um livro que não seja para ser usado em sala de aula pode conter tantos erros?

O que você acha?

Este post teve uma repercussão imensa e me senti muito feliz quando o próprio Roberto Martins deixou um comentário no blog deixando mais esclarecmentos sobre o artigo e os motivos que o levaram a escrevê-lo:

Eu sou Roberto de Andrade Martins, que estou citado nesta página. Deixem-me falar um pouco sobre isso. Quando a primeira edição do livro "A dança do universo" estava sendo lançada, com grande apoio da midia (talvez porque o irmão de Marcelo Gleiser faz parte da diretoria da Globo), fui convidado para um programa "Roda Viva" da TV Cultura sobre o livro. Inicialmente aceitei, então a produção do programa me enviou o livro e reportagens de jornais sobre o autor e a obra (com imensos elogios escritos quando o livro ainda estava sendo escrito!). Fui lendo o livro e fazendo anotações. Quando terminei, entrei em contato com a produção do "Roda Viva" e disse que não ia participar, porque tinha muitas críticas ao livro. Insistiram, mas eu resolvi não ir, porque seria uma situação muito antipática: um autor novo, desconhecido, falando sobre seu primeiro livro, e uma outra pessoa fazendo críticas na TV. No entanto, redigi uma parte das críticas e enviei para a editora do livro (Companhia das Letras), sugerindo que eles pedissem pareceres sobre o conteúdo do livro, para evitar publicar coisas erradas. Eles não me responderam, mas enviaram as críticas para o autor, que me mandou um e-mail, agradecendo e perguntando se eu tinha outras críticas (na carta para a Companhia das Letras eu havia dito que aquelas eram apenas algumas das críticas). Respondi ao autor, dizendo que tinha mais críticas, sim, e que poderia enviá-las para ele se isso fosse útil - mais especificamente, se ele concordasse com uma parte delas e se fosse levar as críticas em conta quando fizesse uma nova edição. Ele respondeu que sim, então escrevi mais umas dez páginas de críticas e enviei para ele. Não respondeu, mas algum tempo depois recebi da editora a segunda edição do livro, onde havia um agradecimento a mim. Infelizmente, ao examinar o conteúdo do livro, verifiquei que poucos dos erros tinham sido corrigidos. E meus conhecidos, que viram o agradecimento, começaram a me questionar: eu estava avalisando aquele livro? Isso criou uma situação muito desagradável, para mim. Só depois disso resolvi redigir as críticas sob forma de artigos, que enviei para publicação (estão disponíveis nestes links: http://www.ghtc.usp.br/ram-r66.htm e http://www.ghtc.usp.br/ram-r67.htm). A revista onde foram publicados ("Caderno Catarinense de Ensino de Física", que depois mudou o nome para "Caderno Brasileiro de Ensino de Física") convidou o autor a publicar uma resposta, que sairia junto do meu artigo. O autor preferiu não responder. É essa a história.
Quero deixar aqui meu agradecimento ao professor Roberto Martins pelos esclarecimentos e por responder meus e-mails com tanta agilidade e prontidão.
 
 
Bjos e até maisCamille

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1 comentários:

Cibele Sidney disse...

Eu fico indignada com a falta de ética. Muito bom seu post, vou compartilhar no meu blog Física sem Educação.

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